As descobertas científicas, que permitem saber como funcionam o cérebro, cada vez mais contribuem para modificar a visão do amor e do sexo. Não vamos mais tratar o sexo como algo incompreensível, como uma atração mágica, que não se entende. Estamos começando a perceber que temos mecanismos em nosso cérebro que nos fazem sentir ou não atraídos por determinada pessoa. Examinando o cérebro de um homem, por exemplo, ao mostrar a ele a foto de uma mulher bonita e outra foto da mulher por quem ele está apaixonado, vão se perceber excitações diferentes, em locais diferentes.
Mas não é somente em relação ao sexo. A antropóloga americana Helen Fisher acredita que estamos vivendo uma revolução na medicina que pode modificar a face do amor. Alguns especialistas acreditam que a paixão está associada às anfetaminas naturais, que se alojam nos centros emocionais do cérebro, enquanto o afeto está ligado a substâncias tipo morfina — as endorfinas. Homens e as mulheres “doentes de amor” começaram a ser tratados com drogas que atuam como antídotos para algumas dessas substâncias químicas.
“Será que novos elixires podem afinal ajudar os ‘dependentes afetivos’ a romper parcerias insatisfatórias? Talvez os cientistas aprimorem sua compreensão da atração e do afeto durante este século e engarrafem poções de amor ou curas temporárias. Se isso acontecer, podemos ter a certeza de que os pretensos amantes e os namorados abandonados e abatidos comprarão essas misturas em jarras — tanto para estimular a obsessão quanto para sufocar a paixão”, conclui Fisher. Outra possibilidade é que as pessoas deixem de necessitar da exaltação provocada pelo amor apaixonado.
A maioria ainda acredita só ser possível encontrar a realização afetiva através da relação amorosa com alguém. A busca da “outra metade” então se torna muitas vezes desesperada. Entretanto, nas grandes cidades em todo o Ocidente, há cada vez mais gente optando por morar sozinha. Isso indica que as mentalidades estão mudando. É provável que mais pessoas percebam que viver sem um par amoroso não significa solidão. Contudo, a condição essencial para ficar bem sozinho é o exercício da autonomia pessoal. Isso significa, além de alcançar nova visão do amor e do sexo, se libertar da dependência amorosa exclusiva e “salvadora” de alguém.
Regina Navarro Lins
Psicanalista e escritora, autora do livro A Cama na Varanda
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