14 outubro, 2011

CARTA EXTRAVIADA - 52


52.
vivi a ilusão da liberdade, daquela liberdade sonhada
em que se pode ser casada e solteira
infantil e madura, morena e oxigenada
aquela liberdade atemporal em que se pode fazer tudo
sem ser condenada
em que as leis são individuais, as faltas puras
vivi a ilusão de que poderia sobrevoar os edifícios e
sorrir feito criança, que poderia satisfazer meu corpo
sem pagar preço alto e até mesmo nenhum
a liberdade que cheguei a experimentar me tirou de
             órbita
me fez perder peso, ganhar viço, acreditar
por uns instantes tive o gozo flutuante, fui inocente e
             fui eu
eu fui eu por uns dias, eu fui eu por uns céus
fui ser quem eu era ao nascer, antes de ser educada,
resumida, adestrada, induzida, aplicada,
antes de ser abatida em pleno voo.

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