31 outubro, 2011 0 comentários
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1) Você é:
- O meu sol
- O meu único sol
2) Você me faz:
- Feliz
3) Quando:
- O céu está cinza.
4) Você nunca saberá, querida:
- O quanto eu te amo
5) Por favor, não tomar:
- O meu sol embora.

28 outubro, 2011 0 comentários
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Reflita

Vc diz q sofre pq ama e ñ é correspondido.
Vc ñ come por medo d engordar,
Vc ñ gosta d repetir a roupa pq tal pessoa já viu vc usando ela.
Vc pod ter mil motivos para chorar, pra querer desistir e tentar se matar,
Mas, lembre-se... q existem pessoas numa situação bem pior,
e q mesmo assim elas continuam VIVENDO...

23 outubro, 2011 0 comentários

JUNTOS HÁ 72 ANOS, CASAL MORRE DE MÃOS DADAS




Um casal do Estado de Iowa, nos Estados Unidos, que viveu junto
durante 72 anos,  morreu de mãos dadas em um hospital na semana
passada, com apenas uma hora  de diferença. Norma Stock, 90 anos,
e Gordon Yeager, 94, casaram-se em 1939 e tiveram quatro filhos
 Um casal do Estado de Iowa, nos Estados Unidos, que viveu junto durante 72 anos, morreu de mãos dadas em um hospital na semana passada, com um intervalo de apenas uma hora. Norma Stock, 90 anos, e Gordon Yeager, 94, casaram-se em 1939 e tiveram quatro filhos.

Na última quarta-feira, quando iam ao centro da cidade de Des Moines, eles sofreram um acidente de carro. No hospital, foram levados para a unidade de terapia intensiva e os enfermeiros entenderam que não podiam separá-los. "Eles foram colocados no mesmo quarto e ficaram de mãos dadas", disse Dennis Yeager, filho do casal.

Gordon morreu segurando a mão de sua mulher e rodeado por seus familiares. "Foi estranho, eles estavam de mãos dadas e meu pai parou de respirar, mas eu não consegui perceber o que estava acontecendo porque o monitor do coração continuava funcionando", disse Dennis. Uma hora depois, Norma também se foi. "Nenhum deles sobreviveria sem o outro", disse Donna Sheets, outra filha do casal. No funeral, Norma e Gordon continuaram de mãos dadas. Segundo a família, o casal seria cremado e suas cinzas seriam misturadas. “Eles eram um casal à moda antiga. Acreditavam na frase ‘até que a morte os separe’”, resumiu o filho Dennis.
14 outubro, 2011 0 comentários

CARTA EXTRAVIADA - 30


30.
te amei  e amei minha fantasia amei de novo e amei a nossa estreia
amei meu próprio amor e amei a tua audácia
te amei muito e pouco e comovidamente
amei a história construída, os ritos e os porquês
te amei no invisível e no inaudível amei no crível e no incrível
amei ser dona e te amei freguês
te amei e amei a farsa arquitetada
amei o nosso caso e amei a nossa casa
amei a mim, amei a ti, parti-me ao meio
te amei no profundo, no razo e com atraso
não era tua hora, não era minha vez


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CARTA EXTRAVIADA - 1


1.
caminhante, passou por mim em passos lentos com uma blusa que jamais o vi usar e um cavanhaque ele que tinha o rosto imberbe e cujas blusas eu lavava
todas cruzou por mim na calçada e me olhou com olhos novos da mesma cor de antes mas eram olhos outros que viram virgindades durante o nosso tempo apartado era ele mas era outro, e eu era eu mesma, e outra e a distância entre nós era bem mais longa que aqueles passos curtos e o tempo entre nós era infinito no nosso desconhecimento mútuo ele que tanto amei e ele a mim, que trocamos beijos mais que íntimos suas cicatrizes pelo corpo que lambi, e ele aos meus seios ele que não me foi secreto por anos e eu por ele igualmente traduzida caminhante, hoje passou por mim como se não houvesse passado
ele, em passos lentos, fez um sinal educado com a cabeça eu, com meio-sorriso, fiz que não tinha importância
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EU, MODO DE USAR


Eu,
Modo de usar:

pode invadir ou chegar com delicadeza mas não tão devagar que me faça dormir não grite comigo que tenho o péssimo hábito de revidar
acordo pela manhã com ótimo humor mas permita que eu escove os dentes primeiro toque muito em mim, principalmente nos cabelos
e minta sobre a minha nocauteante beleza tenha vida própria, me faça sentir saudades
conte umas coisas que me façam rir mas não conte piadas nem seja preconceituoso, não perca tempo cultivando esse tipo de herança dos seus pais 
viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim
para reconhecer-me um porto, um albergue da juventude
eu saio em conta, você não gastará muito comigo
acredite nas verdades que digo e nas mentiras
elas serão raras e sempre por uma boa causa
respeite meu choro, me deixe sozinha
só volte quando eu chamar, e não me obedeça sempre
que eu também gosto de ser contrariada
(então fique comigo quando eu chorar, combinado)
seja mais forte que eu e menos altruísta
não se vista tão bem, gosto de camisas pra fora da calça
gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço
reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto
boca, cabelo, os pelos no peito e um joelho esfolado
você tem que se esfolar às vezes, mesmo na sua idade
leia, escolha seus próprios livros, releia-os
odeie a vida doméstica e os agitos noturnos
seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate
que isso é coisa de gente triste
não seja escravo da televisão, nem xiíta contra
nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai
invente um papel pra você que ainda não tenha sido preenchidoe o inverta às vezes, me enlouqueça uma vez por mês
mas me faça uma louca boa, uma louca que ache graça
e tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca
goste de música e de sexo, goste de um esporte não
muito banal não invente de querer muitos filhos, me carregar pra missa apresentar sua família, isso a gente vê depois, se calhar

 
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CARTA EXTRAVIADA - 2


2.
Estou há vários dias escrevendo esta carta mentalmente, pois na mente os erros ortográficos contam menos que os erros de atitude, e só no que penso são nos erros, uma vez que foram infinitamente mais constantes que os acertos. Não estou organizando frases para resumi-las num pedido de desculpas, pois nada me parece mais raso e os meus erros merecem um pouco mais de consideração, já que foram tão solenes e fartos, meus erros foram dos de tamanho grande, e há que se ter por eles um desprezo de igual envergadura. Menina, só um amor gigante provocaria esta nossa ruptura.

Se não há explicação, ao menos sinto verter por dentro um leve arrependimento, errei por razões mínimas porém em vezes diversas, o que me confere fartura, ainda que não tenham sido erros à sua altura. Menina, eu sei, você preferiria que eu tivesse acertado, mesmo que um acerto em miniatura.

Talvez não seja da minha índole agir com generosidade, é de família esta minha dificuldade em fazer os outros felizes, mas, ao contrário, é dom da tua, pois fizeste da tua felicidade a minha clausura. Que mistério é esse de tornar um homem apático o rei da euforia, de fazer de um homem sério o senhor da galhardia, de fazer de um homem só um homem mais só ainda, por não antever mulher alguma que consiga repetir esta aventura?

Menina, por um triz não fui o que esperavas de mim, faltou-me a coragem, não faltou-me a fissura. Para sempre estarei a te escrever esta carta mentalmente, confusa e fria, mas não impura, já que nela abdico dos meus erros e acertos para revelar apenas o que em silêncio te dedico, um amor injulgável, imedível, totalmente irresponsável, amor que abraça o sofrimento para testar sua resistência e que acredita, de maneira um tanto tola e quixotesca, que só este tipo de amor é que perdura.

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ENSAIOS D'AMOR


O  amor e o ensaio têm em comum o caráter de ser uma tentativa, a articulação de um entendimento que deve sempre rever a si mesmo, a aproximação ciente de que o movimento é vital e não final, a recusa ao dogma da perfeição e ao mesmo tempo a crença de que sempre há o que melhorar. Escrever um bom ensaio sobre o amor, portanto, parece fácil, mas não é, já que tatear sobre o intangível leva aos abismos entre as palavras. “O amor é avesso a qualquer enquadramento, refratário às ideologias”, escreve o francês Pascal Bruckner em O Paradoxo Amoroso (editora Difel), e seu livro é bom justamente por não transformar o amor numa ideologia, numa utopia, e assim defendê-lo como poucos. Barthes que me desculpe, mas os fragmentos do discurso amoroso de Bruckner são de uma grandeza que raramente se vê nos ensaios sobre o tema.
O que ele chama de “paradoxo”? O fato de que o amor nasce sempre sob o signo do entusiasmo, da entrega febril, e depois vai se convertendo numa rotina tediosa, sem aventura, repleta de picuinhas e injustiças. O romance da libertação a dois gradualmente passa a ser o drama da prisão partilhada. E dão greve ao prazer, cometendo uma deslealdade antes mesmo de passar a uma traição concreta. Bruckner cita a passagem de Proust numa carta a um amigo, para o qual o grande ficcionista vaticina o futuro “desses homens fracassados a ponto de viver vinte anos ao lado de um ser que os engana sem que eles percebam, que os odeia sem que eles saibam, que os rouba sem se confessar, tão cegos sobre os defeitos dos filhos quanto sobre os vícios de suas mulheres”. O amor nasce como luz, mas logo os amantes se veem cegos.

Bruckner está particularmente preocupado com o amor na atualidade, em que não é a repressão que sufoca, mas a liberdade, ou melhor, o que o individualismo cínico de hoje entende por liberdade. “Tanto mais que a emancipação, sobretudo para as mulheres (…), multiplicou o peso de novas obrigações. As relações íntimas são calcadas nas do trabalho: o retorno sobre o investimento deve ser maximizado. (…) Sonho com uma relação humana que jamais extravase: você me agrada, ficamos juntos; você me cansa, eu o dispenso. Experimentamos o outro como um produto.” Essa não é uma abordagem muito diferente da de outro livro recém-publicado no Brasil, O Amor nos Tempos do Capitalismo, de Eva Illouz, cujo título sugere um tratado marxistoide que não é seu conteúdo. “A internet estrutura a busca do parceiro como um mercado”, nota a autora, que mostra como os discursos da psicoterapia e do feminismo se somaram a isso.

Illouz também vê um paradoxo, este no fulcro da cultura consumista: “Ao mesmo tempo que o discurso do individualismo triunfal e autoconfiante nunca foi tão disseminado e hegemônico, a demanda de expressar e praticar o próprio sofrimento, seja em grupos de apoio, seja em programas de entrevistas, na terapia, nos tribunais ou nos relacionamentos íntimos, nunca foi tão estrídula”. A indústria da autoajuda e dos antidepressivos induz à expectativa de que os problemas sejam resolvidos como “fast food”, como um objeto de consumo que sacia meus desejos, na verdade insaciáveis em sua rede de dependência; o desejo novo, afinal, tem como trunfo parecer mais promissor, e no entanto as decepções se multiplicam à mesma escala. Como diz Gley P. Costa na revista IDE 52 da Sociedade Brasileira de Psicanálise, sob o tema “Amores”, não se pode pensar no amor verdadeiro “sem disposição para o autossacrifício em prol do parceiro”. E autossacrifício é tudo que nossa era desencoraja.

Voltando a Bruckner, que diz tudo isso e mais um pouco, ao criticar o egoísmo defendido por seriados como Sex and the City: “O amor é uma aventura de que não queremos nos privar, mas com a condição de que ela não nos prive de nenhuma outra”. Seduzir se torna uma caça a troféus, ao exercício da vaidade – como quando alguém numa relação estável diz que “só não quero saber” de eventuais casos de sua parceira, na verdade querendo dizer que quer ter o direito de fazer o que quiser desde que consiga não magoar o outro. “Há uma maldade nova em nossos amores: a adesão a mim mesmo me autoriza a apunhalar o outro pelas costas”. Trata-se o outro com valores utilitaristas: se não serve mais, será descartado; a fidelidade se torna um esforço que termina deixando um com raiva do outro. O pior, diz Bruckner, é que o casal se mostra indigno da paixão que o fez começar e, assim, deixa a monotonia vencer.

Bruckner não acredita então no que Ovídio, em sua Arte de Amar (livro que também acaba de ser reeditado: Amores & Arte de Amar, editora Penguin Companhia), chama de “amores sólidos”, livres da indulgência mútua? Muito ao contrário. Ele cita outro clássico, John Milton, “Um bom casamento é uma conversa variada e feliz”, e também lembra a frase de Borges, de que o amor é amizade e sexualidade – às quais se poderia acrescentar a ternura, o sentimento de que o ser amado mexe muito mais conosco do que um simples amigo atraente. É um equilíbrio sempre móvel entre segurança e aventura, a não ser vencido pela desconfiança ou egoísmo; não faz sentido ferir tanto quem amamos, cobrando perfeição como se o menor desapontamento fosse justificativa para magoá-lo, para trocar uma bela história por um laço superficial. O amor duradouro é uma conversa contínua, uma troca de duas vozes sempre redescobrindo a si mesmas. É um ensaio, não um contrato. 
Daniel Piza. A partir do Estadão.
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CARTA EXTRAVIADA - 51


51.
quem de mim você quer?
sou boa mãe, esposa exemplar
profissional respeitada, prendas do lar
gosto de plantas, sou organizada e sei bordar

quem de mim você quer?
sou meio maluca, danço sozinha
bebo profissionalmente e não dou vexame
sou sexy, malandra, boa de cama

quem de mim você quer?
leio até tarde Proust, Balzac, Flaubert
escrevo poemas, visito escolas
sou capaz de citar Baudelaire

quem de mim você quer?
faço ginástica, musculação, caminhada
nado mar adentro, jogo vôlei, frescobol
novecentos abdominais por semana

quem de mim você quer?
acampo em desertos, não tenho medo de avião
gosto de Paris, Londres, cidades plurais
bicicleta, motorhome, paraquedas, mil milhas

quem de mim você quer?
a maternal que atravessa madrugadas insones?
a visceral que não deixa você dormir?
a internacional que fala várias línguas?
escolha seu percentual de mulher
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CARTA EXTRAVIADA - 52


52.
vivi a ilusão da liberdade, daquela liberdade sonhada
em que se pode ser casada e solteira
infantil e madura, morena e oxigenada
aquela liberdade atemporal em que se pode fazer tudo
sem ser condenada
em que as leis são individuais, as faltas puras
vivi a ilusão de que poderia sobrevoar os edifícios e
sorrir feito criança, que poderia satisfazer meu corpo
sem pagar preço alto e até mesmo nenhum
a liberdade que cheguei a experimentar me tirou de
             órbita
me fez perder peso, ganhar viço, acreditar
por uns instantes tive o gozo flutuante, fui inocente e
             fui eu
eu fui eu por uns dias, eu fui eu por uns céus
fui ser quem eu era ao nascer, antes de ser educada,
resumida, adestrada, induzida, aplicada,
antes de ser abatida em pleno voo.
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CARTA EXTRAVIADA - 54


54.
tua foto em minhas mãos
mais uma vez nesta semana
depois de tantos anos e tantas vezes vista

nesta foto em que te capto
teus olhos já estão gastos
tanto quanto os meus


depois de tantos anos e tantas vezes vista
tua boca fechada parece entreabrir
como se a foto de tão violada se mexesse
eras moreno no dia desta foto

mas passaram-se milhares de dias desde esta mirada
descubro mais clara tua pele
e mais fechada a tua aura
depois de tantos anos e tantas vezes vista


desbotada e de uma felicidade sem viço
esta foto afilou teu nariz, te deu manchas no pescoço
e te envelheceu mesmo com o tempo retido

o papel ganhou rugas e o retrato não falou
porque retrato não fala, foto não revela
depois de tantos anos e tantas vezes vista
 

foto triste

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CARTA EXTRAVIADA - 3


3.
Não é da minha natureza esperar que me dêem liberdade, não espero pelo pouco que há de essencial na vida. Sendo liberdade uma delas, eu mesmo me concedo. Ser livre não me ensinou a amar direito, se por direito entende-se este amor preestabelecido, mas me ensinou as sutilezas do sentimento, que, afinal, é o que o caracteriza e o torna pessoal e irreproduzível. Te amo muito, até quando não percebo.

O amor que eu sinto pode parecer estranho, e é por isso que o reconheço como amor, pois não há amor universal: não, caríssima. Não há um amor internacional, assim como são proclamados os cidadãos  do mundo. Cada cidadão, um coração, e em cada um deles, códigos delicados. Se não é este o amor que queres, não queres amor, queres romance, este sim, divulgadíssimo. Te amo muito, e não sinto medo.

Bela e cega, buscas em mim o que poderias encontrar em qualquer canto, em todo corpo, homens e mulheres ao alcance de teus lábios e dedos, romance: conhecido o enredo, é fácil desempenhá-lo. E se casam os românticos, e fazem filhos e fazem cedo.

O amor que sinto poderia gerar casamento, pequenos acertos, distribuição de tarefas, mas eu gosto tanto, inteiro, que não quero me ocupar de outra coisa que não seja de você, de mim, do nosso segredo. Te amo muito, e pouco penso.

Esta carta não chegará, como não chegarão ao seu entendimento estas palavras risíveis, estes conceitos que aos outros soariam como desculpa de aventureiro ou até mesmo plágio, já que não há originalidade na idéia, muito difundida, porém bastante censurada. Serei eu o romântico, o ingênuo? Serei o que quiseres em teu pensamento, tampouco me entendo, mas sinto-me livre para dizer-te: te amo muito, sem rendimento, aceso, amor sem formato, altura ou peso, amor sem Conceito, aceitação, impassível de julgamento, aberto, incorreto, amor que nem sabe se é este o nome direito, amor, mas que seja amor. Te amo muito, e subscrevo-me.
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CARTA EXTRAVIADA - 4


Sou mais um desses boçais que escreve tudo aquilo que deveria ser falado, e você é mais uma vítima que jamais vai ter atendido o seu desejo: saber. Mesmo consciente da sua boa vontade de me ouvir e entender, lhe escrevo, não posso ir além, não peça para remeter-me, esta carta não é para chegar, é uma carta de ficar.

Para mim e para você, escrevo que, daqui de onde me encontro, você está longe e perto, e eu estou rozinho e não. Do que sinto, aviso que é forte mas não é perigoso, é como um grande lago sereno, eu sou o píer, quase me precipito, você é todo o resto, toda água, tudo o que há. Mas somos dois e em vez de par, somos ímpares. Estou possuído por você e ao mesmo tempo permaneço impermeável, amo a seco, e rendido.

Você não me acharia covarde, você não acharia nada: você não me conhece. Sou um vulto, um alguém,
você foi gentil comigo como é com os garçons e os primos, com os pedestres e com os turistas, você foi o que ; sempre foi, e eu não fui com você: no terceiro minuto í ao seu lado eu já sabia que era irremediável, e em vez de o segurar sua mão e reverter-lhe a pressa, deixei que você fosse, eu fiquei.

Os dias, os gestos, rituais cotidianos, surpresas, tudo ; corre, tudo passa por mim, menos o susto deste amor que entranhou-se feito limo, umidade em peito árido, me sinto tomado, absorvido, e não encontro método t ou coragem para dizer: você que é motivo e dona desta | represa, fique comigo, pois é só o que eu sei fazer, ficar.


Mas você é ligeira, em movimento constante, você não senta, não repara, quer vida demais, sedenta, me fisgou muito rápido, e eu sou lento, estudado, incapaz de um repente, apaixonado por uma mulher impaciente, que suplica com o olhar e não espera, você se foi, em frente, quando deveria ter ficado.

Você não me conhece, não houve tempo. Seu olhar me autorizava o flerte, se eu lhe acompanhasse, rogaria ípor um beijo, e de mãos dadas o nosso caminho haveria de ser compartilhado. Mas eu sou mais um desses boçais que não falam, que pensam demais antes do próximo passo, e você é mais uma vítima de um amor não consumado.

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CARTA EXTRAVIADA - 5


Tudo o que vejo são telas digitais, um novo mundo feito de chips e megabytes, e você vem falar de amor, um amor que deixaria a todos incrédulos por ser real demais.
 
Não recebi suas cartas, mas sei que elas foram escritas, o universo regido por ícones eletrônicos induz a fantasias telepáticas. Ser intuitiva também é uma forma de conexão, há muitas cartas extraviadas viajando pelo espaço, sem fios ou cabos, sem satélites, palavras silenciadas e igualmente transmitidas. Amor é um troço raro e sempre de vanguarda.

Também escrevo minhas cartas que não são postadas, cartas digitalizadas no sonho, um mundo de excelentes intenções, nostalgias, poesias, essas coisas quase fluviais.

Você vem falar de amor de um modo que emociona, e eu vou falar de amor como se fosse sua resposta. Agradeço, primeiramente, o amor recebido e negado, demonstrado e não, existido e inventado. Pouco importa os plurais de um amor, seus adjetivos, seus diagnósticos e o tempo percorrido, se foi um amor de verão ou se já comemorou vinte bodas anuais, o amor que sinto não é dado a configurações, o amor transcende, nunca foi mortal como a gente.

Gosto destes sons, embala o amor a rima, navego empurrada pelos ais e por sufixos e sílabas que remam, remam, aqui vão minhas palavras navais. O amor não tem ancoradouro, porto, cais -- o amor é navegante e recolhe pessoas neste mar de distraídos, salva vidas. O amor que você narra e a mim dirige é amor primitivo, fora de catálogo, é sorte dos amores ambientais, estão por toda parte, para senti-lo requer apenas querê-lo. Conceitos fugazes do amor? Não creio. Há os amores produzidos e os amores naturais, os amores duros e os rarefeitos, há os que nascem no peito e os ancestrais, amores vários, todos iguais.

Em diversas cartas há seu apelo e sua culpa pelo amor não vivido. O amor vive apesar de nós, tudo o que se sente é validado por ser existente, não sofra mais. Foram cartas não assinadas, não enviadas, talvez escritas por mais de uma pessoa, tanto faz. São cartas de amor, e mesmo com angústia e anonimato, sobrevive nelas o tesouro de um sentimento bruto, porém não violento. O amor comentado nestes tempos que correm é produto,
assunto de revistas e jornais, o amor nos tempos que correm deveria ir mais devagar, aceitarem-se múltiplos, gozo, gás. Você que escreve mentalmente, você que escreve cartas pra ficar, você que não sabe direito que amor é esse e que só quer se desculpar, você que ama livre e você, entre grades, você que ama em pensamento, você e você e você, nós todos e nossos amores ornamentais, que ainda nos fazem chorar e mal entender, carentes existenciais, você e você e você e nossas cartas abortadas, digamos para nós mesmos: comunicar é lindo e gritar o amor é nobre, dizer te amo é bálsamo e mais ainda, escutar. Mas o amor independe, o amor, remetente, é transcrito no olhar, há quem entenda e há quem procure lê-lo em outro lugar. Amor é carta que mesmo extraviada está ora chegando e partindo, e pode cair em mãos que não as destinadas, mas onde estiverem as palavras, escritas ou caladas, onde estiverem os desejos e seus códigos postais, não importa a data em que foram selados, serão sempre cartas de amor e amores que alcançaram seus finais.
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TEORIA DOS AMORES INVENTADOS



A frase do Cazuza “o nosso amor a gente inventa, pra se distrair” sempre me fez parar pra pensar. Aliás, essa não é a única letra no qual ele se refere sobre amores inventados. Talvez ele já tivesse aproveitado os benefícios dos amores de faz-de-conta, que foram bons enquanto duraram. E fiquei pensando quantos dos nossos amores a gente também não inventa pra se distrair.

Ainda não conheço sentimento que renova mais do que a paixão. Quando você se apaixona, a vida parece ganhar uma camada de cor e verniz extra. Fica tudo mais lindo, mais motivante, com mais sentido. A paixão renova, dá combustível, dá motivos pra seguir em frente. É fácil perceber de longe alguém que está apaixonado, porque o clichê se repete – olhos brilhando, cabeça avoada, sorrisos sem motivo aparente, assuntos que se repetem e borboletas no estômago.

A paixão vicia. Depois que você experimenta uma vez e descobre os milagres que ela opera na sua vida, difícil querer viver sem. E é aí que entram os amores inventados. Queremos tanto viver essa sensação que, o alvo da paixão, às vezes acaba nem importando tanto. Encontramos alguém potencial, mas que não era bem quem queríamos. Mas tudo bem. Ele é legal, transa bem, te faz rir. Alguns motivos como esses já bastam – sem titubear, pegamos o sujeito e o colocamos na forma, moldando de acordo com o nosso imaginário. Os defeitos, jogamos pra baixo do tapete e os mantemos lá até quando der. O importante é manter o combustível fluindo.

E o trabalho que estava ruim das pernas, já deixou de ocupar seus pensamentos. A carreira estacionada, também. Problemas com a família, já nem passam mais pela cabeça. Deixa tudo pra depois, que agora é a hora de viver essa paixão linda. Mas, já estamos acostumados com o fato de que uma parcela das coisas boas, têm efeitos colaterais – e não seria diferente com os convenientes amores inventados. 

Inventando paixões, corremos o risco de depositar no amor uma responsabilidade que ele não pode segurar. Queremos uma vida nova, um recomeço, o fim da rotina. Esperamos que o amor cure nossos problemas, acabe com nossas aflições, nos aconchegue. Só que, como já era de se esperar de um sentimento inventado, a ficção uma hora chega ao fim. Os defeitos, antes, aquietados debaixo do tapete, passam a tomar forma. Aquela mania dele irritante que você fingia não ver, toma proporções absurdas. Algumas atitudes delas que você deixava passar, agora não te descem mais na garganta.

Assim, o conto de fadas chega ao fim. Sem o final feliz costumeiro. E, com o fim da ilusão, todos os problemas antes esquecidos, voltam a tona – e aí que você percebe que perdeu mais um tempo da sua vida e não fez nada para resolver seus problemas. Eles continuam lá, intactos. Às vezes, até fortalecidos depois do período sabático ao qual foram submetidos. E aí você percebe que, durante esse tempo todo, só encobriu suas crises. Quando a deprê da ficha caída pega pesado, alguns até se rendem novamente a algum amor inventado. Qualquer um, que não seja tão insuportável, que deixe a vida mais leve. Só por hoje. Só por enquanto durar.

E, de amor em amor, a vida vai passando e a gente vai levando. E atire a primeira pedra que nunca inventou um amor só pra descontrair um pouco. Acredito que, se a invenção for feita em plena consciência e com moderação, os efeitos colaterais não são tão ruins assim – difícil é querer associar paixão com moderação – uma mistura quase impossível. E mais difícil ainda, é perceber que você não tem capacidade de solucionar os problemas da sua vida sem as muletas que o amor oferece. Algo precisa ser feito. Mas se as questões da vida estiverem em partes resolvidas e você decidir inventar um amor só pra poder usufruir das vantagens dele, aí talvez não seja de todo mal sair cantando: “o nosso amor a gente inventa pra se distrair/ e quando acaba a gente pensa, que ele nunca existiu.”
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O QUE ACONTECEU NOS ANOS EM QUE NÃO NOS VIMOS


Encontrar um antigo amor é sempre embaraçoso -- e complicado. Um dos dois fez o outro sofrer, claro, por isso não dá para dizer (nem ouvir) um "oi, tudo bem?", que poderia soar como uma cruel indelicadeza.

Em lugares com muita gente é possível disfarçar, apertando os olhos e fingindo que ficou míope, por exemplo. Pode também atender o celular (que não tocou, mas dá para fingir que ele vibrou) e cortar a possibilidade de uma conversa.
E conversar sobre o quê? Política, o último filme? Sobre o passado? Difícil, um encontro desses, e quando essas duas pessoas tiveram um grande caso de amor há muitos e muitos anos, nunca mais se viram e o acaso fez com que eles se encontrassem, aí é muito grave.

Primeiro é o susto, seguido de uma fração de segundo para reconhecer -quem diria?- o que foi uma grande paixão.

Essa hesitação acontece com os dois; não que um tenha se esquecido do outro, mas tudo aconteceu há tanto tempo que, quando esse encontro acontece, a ficha leva alguns segundos para cair.

Ele vai tentar reconhecer nela aquela mulher que tanto amou -sem conseguir. Ela vai achar que o tempo foi cruel com ele, esquecida de que o tempo passou para ela também.

Mais do que qualquer ruga, foi a expressão do olhar que mudou. Por expressão do olhar entenda-se o brilho das ilusões dos 30 anos, das esperanças, da certeza de que o amor seria eterno.

O tempo passa e a vida vai nos fazendo menos crédulas e mais práticas; menos românticas, sobretudo.

Quando eles se olham, se dão conta de tudo isso e de muito mais; sabem que cada marca no rosto, cada fio de cabelo branco, é resultado de outros amores que aconteceram desde a última vez em que se viram, das experiências pelas quais passaram, um sem o outro. É a dolorosa constatação de que a vida passou. Para elas, é sempre pior, já que as mulheres costumam ser dramáticas.

Como é possível perguntar a um ex-grande amor o que aconteceu nos anos em que não se viram, se ele sofreu quando se separaram, se esqueceu, se se apaixonou de novo?

E não poder dizer que em todo esse tempo nunca surgiu outro homem que apagasse a lembrança de tudo que eles foram, que quando toca a música que era a deles seu coração ainda bate forte, e que ela nunca perdeu a esperança de que ele um dia aparecesse dizendo que foi tudo um grande erro, que queria ela de novo para sempre; como dizer isso a um homem que não vê há 20 anos?
Não dá, simplesmente não dá.

Quando esse encontro acontece e os dois vão, civilizadamente, tomar um vinho, a conversa pode ser perigosa, e é melhor que mintam e não mostrem fotos dos filhos. O que está feliz não fala, por delicadeza. E o outro, que não é infeliz nem feliz, também se cala. Problemas sentimentais podem ser contados a amigos, não a ex-amores.

Mas tem pior. É quando ela reencontra esse homem que não vê há tanto tempo, esse homem por quem teria feito todas as loucuras, e não sente absolutamente nada. E pensa: "Como é que eu perdi tanto tempo com esse cara?" A autoindulgência a poupa de pensar "como eu era boba".

Por essas razões e mais umas 500, é prudente deixar o passado em seu devido lugar; mas se acontecer um desses encontros e pintar a vontade de voltar no tempo, é melhor ser forte e resistir à tentação. Mesmo sofrendo, se for o caso.

Em certas coisas não se deve mexer, e o passado é, decididamente, uma delas.
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É PRECISO SE LIBERTAR DA DEPENDÊNCIA AMOROSA


As descobertas científicas, que permitem saber como funcionam o cérebro, cada vez mais contribuem para modificar a visão do amor e do sexo. Não vamos mais tratar o sexo como algo incompreensível, como uma atração mágica, que não se entende. Estamos começando a perceber que temos mecanismos em nosso cérebro que nos fazem sentir ou não atraídos por determinada pessoa. Examinando o cérebro de um homem, por exemplo, ao mostrar a ele a foto de uma mulher bonita e outra foto da mulher por quem ele está apaixonado, vão se perceber excitações diferentes, em locais diferentes.

Mas não é somente em relação ao sexo. A antropóloga americana Helen Fisher acredita que estamos vivendo uma revolução na medicina que pode modificar a face do amor. Alguns especialistas acreditam que a paixão está associada às anfetaminas naturais, que se alojam nos centros emocionais do cérebro, enquanto o afeto está ligado a substâncias tipo morfina — as endorfinas. Homens e as mulheres “doentes de amor” começaram a ser tratados com drogas que atuam como antídotos para algumas dessas substâncias químicas.

“Será que novos elixires podem afinal ajudar os ‘dependentes afetivos’ a romper parcerias insatisfatórias? Talvez os cientistas aprimorem sua compreensão da atração e do afeto durante este século e engarrafem poções de amor ou curas temporárias. Se isso acontecer, podemos ter a certeza de que os pretensos amantes e os namorados abandonados e abatidos comprarão essas misturas em jarras — tanto para estimular a obsessão quanto para sufocar a paixão”, conclui Fisher. Outra possibilidade é que as pessoas deixem de necessitar da exaltação provocada pelo amor apaixonado.

A maioria ainda acredita só ser possível encontrar a realização afetiva através da relação amorosa com alguém. A busca da “outra metade” então se torna muitas vezes desesperada. Entretanto, nas grandes cidades em todo o Ocidente, há cada vez mais gente optando por morar sozinha. Isso indica que as mentalidades estão mudando. É provável que mais pessoas percebam que viver sem um par amoroso não significa solidão. Contudo, a condição essencial para ficar bem sozinho é o exercício da autonomia pessoal. Isso significa, além de alcançar nova visão do amor e do sexo, se libertar da dependência amorosa exclusiva e “salvadora” de alguém.


Regina Navarro Lins
Psicanalista e escritora, autora do livro A Cama na Varanda
06 outubro, 2011 0 comentários
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